O Instituto Noisinho da Silva, de Belo Horizonte, foi convidado para participar do Include09, um grande congresso mundial sobre design Inclusivo.
No dia 07 de abril, a fundadora do instituto, Érika Foureaux, irá ministrar uma palestra sobre a experiência do Noisinho e apresentar o case Carteira Escolar Inclusiva. A ênfase será sobre a pesquisa de campo realizada e a solução de projeto e design do produto. A ONG foi convidada pelo Royal College of Art, de Londres, Inglaterra, e a participação foi viabilizada com apoio do British Council. Em 2007 o DesignBrasil entrevistou Érika Foureaux.
Utilizar o design como ferramenta de inclusão da criança portadora de deficiência. Esta é a via escolhida pela ONG Noisinho da Silva, de Belo Horizonte (MG).
Fundada em 2003, a Noisinho da Silva projeta mobiliário, objetos e equipamentos que atendam às crianças, deficientes ou não, buscando acessibilidade, independência e autonomia em ambientes escolares, domésticos e públicos.
Não por acaso, a instituição foi neste ano uma das três finalistas do prêmio Tecnologia Social Banco do Brasil na área de direitos da criança e adolescente, com o projeto Oficina da Ciranda.
Para falar sobre a experiência da Noisinho, o DesignBrasil conversou por e-mail com Érika Foureaux, fundadora da instituição. Érika Foureaux possui formação em arquitetura para crianças, com o Grupo Vibel, em Paris, que fabrica e comercializa móveis infantis. Em 1996, abriu uma franquia do Grupo Vibel com um showroom em Belo Horizonte. Em 2001, fez curso de design de produto, pela Universidade Estadual de Minas Gerais.
Design Brasil - Como surgiu a idéia de criar uma ONG dedicada à inclusão – através do design- da criança portadora de deficiência física?
Érika Foureaux - Após um seminário realizado em 2000 no Canadá, quando difundiram o conceito de design universal e de sociedade inclusiva, e haviam várias instituições do 3º setor representadas.
Design Brasil - Como a instituição se viabilizou em termos de recursos humanos e financeiros?
Érika Foureaux - Em nossa sede se encontram diariamente seis pessoas, de diversas áreas. Temos um banco de voluntários formado por profissionais, estudantes e donas de casa, em sua maioria. E também através de recursos provenientes de patrocínios e de doações.
Design Brasil - Por que um dos primeiros projetos realizados foi de mobiliário escolar?
Érika Foureaux - A grande certeza existente entre os membros da Noisinho da Silva é que a inclusão deve começar na escola, onde a criança rompe as primeiras barreiras e recebe lições de cidadania. Utilizando o conceito de design universal, a linha 'Noisinho na Escola' desenvolve uma linha de produtos inclusivos para serem adotados em escolas públicas e particulares de todo o país. O primeiro é a Carteira Escolar Inclusiva. Para desenvolver esse mobiliário especial, entre os meses de setembro de 2004 a março de 2005, a equipe da Noisinho da Silva fez uma análise de 28 escolas das redes pública e privada de Belo Horizonte. Nessas instituições foram analisadas a acessibilidade arquitetônica, a acessibilidade do mobiliário e atitudinal. Mais de três mil crianças foram medidas e pesadas para que se chegasse a uma média de tamanho e peso da criança de Belo Horizonte. Destas, uma amostra foi composta para medidas antropométricas, medidas do corpo estático e em movimento, cujo resultado é um banco de dados de medidas antropométricas. Esta é a primeira vez que estudo dessa natureza é realizado com crianças no Brasil. Aqui, as indústrias têm como parâmetro tabelas de medidas internacionais. Além do trabalho técnico, a equipe da Noisinho da Silva analisou a acessibilidade arquitetônica da criança dEFICIENTE (sic) física em sua locomoção dentro da escola. Também foi realizado um diagnóstico atitudinal, que tem como objetivo perceber a maior ou menor abertura das instituições de ensino para a inclusão. Essas ações são essenciais para um projeto inclusivo.Cada escola visitada pela Noisinho da Silva originou um diagnóstico, que informa o que ainda precisa ser melhorado na instituição de ensino para que haja a inclusão da criança dEFICIENTE (sic). Esse material, destinado às instituições de ensino, aos dirigentes educacionais e governantes, servirá ainda para traçar projetos de inclusão dentro da escola. A intenção da ONG é que ele seja usado para orientar o processo de inclusão da criança dEFICIENTE (sic) nas escolas. A partir daí, a Noisinho da Silva se dispõe a auxiliar, dentro de sua área de competência, cada uma dessas escolas e sua comunidade, acelerando o processo inclusivo. Cabe, ainda, ao setor produtivo fabricá-la e às comunidades demandarem aos dirigentes públicos e privados.
Design Brasil - Fale um pouco sobre o desenvolvimento do projeto Carteira Escolar Inclusiva - do levantamento antropométrico à solução encontrada.
Érika Foureaux - A Carteira Escolar Inclusiva (CEI) tem como objetivo incluir todas as crianças, portadoras ou não de dEFICIÊNCIA (sic) física, na escola, proporcionando um bom posicionamento, estabilidade e segurança intelectual na realização de tarefas escolares. Compreende-se por Carteira o conjunto de mesa e cadeira. As dimensões e sua forma partiram das medidas antropométricas coletadas por nossas equipes de pesquisa em campo. Em seguida, houve uma adequação às necessidades de todos, gerando um segundo momento. Normalizar a CEI, para crianças de 6 a 12 anos, foi um terceiro caminho. O quarto e último foi torná-la atraente, procurando fazer com que todas as crianças se apropriem dela, com orgulho, segurança e ótimo rendimento pedagógico. Temos a diversidade humana como foco, a dEFICIÊNCIA (sic) física como ponto de partida e o mesmo mobiliário escolar para todas as crianças, como resultado. Resultado do quê? De uma pesquisa realizada em 28 escolas de Belo Horizonte, com profissionais de diversas áreas do conhecimento. Do banco de dados de medidas antropométricas, medidas coletadas in loco em 3000 crianças, na faixa de 6 a 12 anos. Da observação de como é o universo escolar, sua dinâmica, suas demandas e suas necessidades. Do conhecimento da indústria nacional, dos meios fabris e de seu método de comercialização. De muita experiência com núcleos de crianças, dEFICIENTES (sic) e não, para validação junto a fisioterapeutas e designers do mobiliário. Da adequação deste produto as normas da ABNT, CPA e portaria do INmetro para mobiliário escolar, regulagens e acessibilidade. Assim, construímos um produto de design do mobiliário. E, ainda, da adequação deste produto as normas da ABNT, CPA e portaria do Inmetro para mobiliário escolar, regulagens e acessibilidade. Assim, construímos um produto de design universal, a favor da educação, da inclusão e de todos brasileirinhos.
Design Brasil - Quais são os benefícios obtidos com o produto?
Érika Foureaux - Todas as crianças, de 6 a 12 anos, podem se assentar em uma mesma carteira, sem que o objeto ajude a realçar as dessemelhanças existentes entre elas. Nós flexibilizamos o mobiliário, para que as crianças cadeirantes, com paralisia cerebral e outros problemas, ou com visão subnormal estejam bem posicionadas, possibilitando segurança intelectual aumentando, assim a auto-estima. Asseguramos aos pais, fisioterapeutas e professores um bom posicionamento de todas as crianças, sobretudo da dEFICIENTE (sic) física. E proporcionamos mais autonomia em classe. Nós podemos também continuar a agrupar as mesas. Conseguimos fazer com que todas as crianças manipulem seu material escolar, de maneira autônoma. Geramos, através do mobiliário, consciência corporal. Estes são alguns dos benefícios da CEI.
*Carteira Escolar: projeto é fruto de parceria da ONG Noisinho da Silva com o designer carioca Guto Índio da Costa (*Corrigido em 29 de fevereiro de 2008)
Design Brasil - Quais são as possibilidades da carteira ser produzida em escala? Que tipo de trabalho está sendo feito pela ONG para convencer empresários/Governos a investir no produto?
Érika Foureaux - As possibilidades são muitas. Estamos articulando, através de dados existentes sobre o processo de inclusão, as políticas públicas adotadas pelo governo federal, estadual e municipal, a demanda da sociedade tendo o produto como resposta viável e consistente, a produção deste mobiliario.
Design Brasil - Quantos profissionais e estudantes de design atuam na equipe da Noisinho da Silva? Essa atuação se dá de forma voluntária, através de bolsas durante o projeto ou, no caso de profissionais, eles são contratados com vínculo empregatícios?
Érika Foureaux - Somos 42 nas varias células. Há os grupos de voluntários e os contratados, por projetos.
Design Brasil - Além da competência e conhecimento em sua área, que tipo de perfil vocês buscam no profissional de design que atua na área de inclusão social?
Érika Foureaux - A ética e o vínculo com a causa. O saber trabalhar em equipe, com pessoas de áreas distintas.
Design Brasil - Como vocês identificaram a necessidade de desenvolver um novo produto, o "Noisinho na Escola"? Que requisitos conceituais esse projeto deve atender? O que falta, em termos de recursos, para viabilizá-lo?
Érika Foureaux - É uma linha que visa, prioritariamente a educação de todas as crianças. O da inclusão de todas as crianças.
Design Brasil - De que modo a Noisinho da Silva vem transformando essa experiência em conhecimento?
Érika Foureaux - Concebendo seus projetos para terem a maior reaplicabilidade possível, seja industrial ou artesanal.
Design Brasil - A Noisinho da Silva é um modelo a ser replicado por instituições que venham a ser criadas em outras regiões brasileiras?
Érika Foureaux - Sim. A inclusão social é um processo que demanda equipes multidisciplinares.
Design Brasil - No dia-a-dia, que tipo de produtos você observa cujo design peca pela falta de universalidade?
Érika Foureaux - Acredito que a grande maioria dos produtos no mercado e que estão sendo concebidos, dentro do meu conhecimento, não aplicam o conceito do design universal.
Design Brasil - De que modo pode colaborar um profissional, um docente, um estudante ou um empresário que atue em atividade relacionada ao design?
Érika Foureaux - Sendo responsável socialmente, praticando o design universal, ajudando tornar nossa sociedade socialmente mais justa, equidade social, apoiando as causas.
Há 16 anos
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