Concepção, design e textos: David Angel Pallas

Colaboração em textos: Erika Santoro
.............................Gabi Goldenstein
.............................NPS Designer
.............................Maira Mattos
.............................Marc Gonçalves

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Uma Leoa volta para Serra - Moda Made in África.


O que você acha da imagem acima? Que máximo! Legal a idéia. Um vestido de alta costura de algum designer europeu, sendo clicado em alguma locação urbana africana. Idéia original e diferente dos editoriais que costumamos ver quando o tema é África. Sempre recorrem ao típico e óbvio como as savanas ou as selvas e seu animais exóticos, ou mesmo os desertos, com seus beduínos e camelos, quando se trata da África Saariana.

Acabo de mentir para vocês algumas coisas no parágrafo acima! O vestido é sim de alta costura, com padrão internacional, mas confeccionado e idealizado em Serra Leoa pela Aschobi Design. A locação da foto foi em uma das diversas ruas pobres de Freetown ,capital deste país, devastado por uma guerra civil durante 11 anos, até 2002, que deixou o mundo em choque através de imagens divulgadas pela imprensa internacional das crianças-soldados,quase sempre drogados, e dos milhares de aldeões mutilados. Serra Leoa é o país mais pobre do mundo tendo o pior IDH e, além disso seu PIB é baixíssimo, e, para se manter, recebe uma pequena ajuda humanitária de outros países, é considerado como um dos menos desenvolvidos mundo segundo a Organização das Nações Unidas.Estima-se que durante a guerra aproximadamente 50.000 pessoas foram mortas, e que existam mais de um milhão de refugiados em outras nações, além dos milhares de mutilados dentre sua população. Entretanto o que também sustenta Serra Leoa, não é só a contribuição de países desenvolvidos a esta nação, mas sim a remessa de dinheiro enviada por muitos habitantes que vivem no exterior para parentes, dignos de aproximadamente US $ 250 milhões por ano. Além deste ultimo fator muitos estão regressando para casa, (estima-se que tenham regressado 50000 desde a guerra terminou), devido às promessas do novo Presidente Ernest Bai Koroma,em reavivar a Economia do País atraindo investimentos estrangeiros.

Além disso, Korona pretende através de uma contribuição mais direta atrair refugiados para a casa, incentivando-os na abertura de novas empresas e negócios, ajudando a desenvolver um país com intactas praias para o turismo, agronegócio potencial, diamantes, minério de ferro, ouro e com a maior reserva de rutilo do mundo (um mineral composto de dióxido de titânio e essencial na industria. Quando finamente moído o rutilo é usado como um brilhante pigmento branco , utilizado em tintas, plásticos, papel, alimentos e outras aplicações que requerem uma cor branca brilhante). Com isso o presidente atual deseja passar confiança para o mundo na antiga colônia britânica (rica em recursos naturais) que poderia se tornar um líder de investimento externo na África Ocidental.

Lentamente, pessoas que viviam em Diáspora estão voltando para Serra Leoa, profissionais com experiência, competência internacional suprindo lacunas no mercado de trabalho do país. È claro que os lucros ou salários iniciais não são satisfatórios, mas o que move essas pessoas é o desejo de voltar para suas raízes e ajudar na reconstrução de sua pátria e acima disso tentar formar um novo continente Africano e tirar partido das oportunidades de negócio em economias de rápido crescimento. Este é o caso de Adama Kai, dona da Aschobi Design .

Adama Kai, é uma fashion designer formada em Nova Iorque e Paris, que organizou essa e várias fotos ( no decorrer deste post veremos outras) , encantando e tocando a imprensa internacional semana passada, para promover a sua nova loja e empresa, a Aschobi Designs.



Aos 25 anos de idade, Kai com altas perspectivas de emprego no mundo desenvolvido, voltou para casa para realizar seu grande sonho: "Voltei para casa e quero prestar esse manifesto na moda. Moda é para todos. Moda traz esperança e luz. Sei que este é o último lugar que qualquer um esperaria encontrar Haute Couture. Mas eu quero substituir todas as trevas do passado de meu país com a beleza do que sei fazer no meu presente. Quero dar o que a de melhor e do que aprendi lá fora na minha profissão a qualquer pessoa daqui.


Talvez eu tenha mais oportunidades, como designer lá fora,ter um salário alto e um nível de vida melhor, mas eu estou para uma maior afirmação muito, maior até que minha carreira. Da mesma forma que Ralph Lauren esta para a América, Chanel para a França e Versace para a Itália, eu quero que a Aschobi chegue a esse posto para a moda Africana. E muito mais que isso, quero mostrar que Serra Leoa também tem gente capaz de produzir coisas lindas. Somos pobres mas somos capazes e temos dignidade e nos orgulhamos de nossas raízes. É muito maior que minha vaidade como profissional esse sonho. Este é apenas o meu trabalho. Na verdade, essa é a minha vida, minhas raízes, da onde vim e quem sou. "



Kai possui uma história de vida singular.: Nascida em Nova Jersey, seus pais eram de Serra Leoa e sua mãe trabalhava para as Nações Unidas. Quando cai ainda não completara 1 ano de vida os pais retornaram para Serra Leoa e quando ela tinha 4 anos de idade foi morar com a mãe na Etiopia. Com 13 anos ela foi para um colégio interno, nos Estados Unidos. Anos mais tarde ela estudou moda em Paris e em Nova Iorque em escolas por onde passaram designers como Marc Jacobs e Dona Karan. Em Nova York trabalhou como assitente de estilo de designers consagrados, foi produtora de moda da Flaunt Magazine e depois fez parte do corpo de diretores desta empresa.



Entretanto a volta para casa de Adama Kai, não esta sendo um mar de rosas. Em Freetown os retornados são conhecidos pejorativamente como JCS, no dialeto local Krio, de "just came '- apenas vir. Atualmente a população local não vê com bons olhos os que viveram em diaspora, mas como aproveitadores que não viveram o conflito junto com seus compatriotas e voltam para roubar seus postos de trabalho. Sendo assim, a criadora que emprega entre três a doze alfaiates, dependendo do seu fluxo de trabalho, é regularmente chamado de "JC" pelas ruas da capital. Kai afirma que para ser aceita pela população local como um deles ainda vai levar tempo, talvez uns cinco anos.


Adama, a nova JC de Freetown com os cabelos torcidos em dreadlocks, se destaca junto a multidão local não só pelo visual, mas muito pela coragem em enfrentar as barreiras do cotidiano e buscar o sonho de consolidar uma moda para seu país . As criações de Kai e sua marca a Aschobi, são ainda mais corajosas que ela, pois possuem toda a linguagem estética africana esquecidas e repudiadas durante os anos de invasão estrangeira, guerra e ditadura. Através de estampas e grafismos inspirados na cultura milenar local, em uma profusão de verde, laranja, amarelo e pinks , em "shapes " que lembram os trajes típicos do passado sofrendo as influencias de um design moderno, a criadora quer que o povo de Serra Leoa volte a lembrar e tenha orgulho de suas raízes e de sua rica cultura através roupa.


"É como se dentro de todos nós, estivesse preso por muito tempo o berro de ' eu sou Africano', e que, por si só, é uma declaração. E essa idéia ser transmitida com orgulho pela roupa", afirmou Kai para a imprensa intenacional.

Entretanto esse ufanismo africano não pode ser usado muitos conterrâneos da estilista. Uma criação de Kai, gira na média de US $ 30,00 a US $ 100,oo; uma soma consideravel em um país onde o PIB médio per capito é de US $ 216. Sendo assim a Aschobi só é frequentada pela pequena classe média alta de Serra Leoa e os retornados, que passeiam pelas roupas penduradas em simples prateleiras de madeira, rodeada por pilhas de moda revistas internacionais, incluindo as edições de Vogue do mundo todo.

" O que eu faço aqui é tão enriquecedor quanto abrir uma escola ou um hospital. Eu da mesma forma que esses dou emprego, ensino uma profissão para muitos e gero renda para este país, além de mostrar quem somos e as nossa raizes culturais através de minhas criações."_ Afirma Adama Kai

A dona da Aschobi, não revela a quantia gasta no seu investimento, só afirma que o lucro ainda não veio e que tem grandes planos e esperanças para o próximo ano em começar a exportar suas roupas, tendo alguns estabelecimentos potenciais já alinhados no mercado americano e na África Ocidental.

"O que estou fazendo agora, economicamente falando, com certeza é uma loucura e perda de capital, mas eu quero começar a venda em atacado e exportar nossa cultura através de minha criação. O mercado em Serra Leoa é muito pequeno. As pessoas que têm dinheiro tendem a gastá-lo no estrangeiro", disse ela. "Mas lucro virá, um dia e sei que serei recompensada ."

Com certeza Adama será recompensada. Que seu exemplo de moda política, ao tentar resgatar cultura e dignidade seu povo, seja exemplo para muitos designer de todo mundo. Muitas das vezes, esquecemos que pelo nosso ofício podemos mostrar nossa raízes e "para o que viemos", sem ficarmos tão presos ao estigmas de sermos meras cópias das grandes marcas internacionais e das tendências, não possuindo uma identidade própria, não sabendo interpretar as informações que nos chegam e adapta-las para a nossa realidade. A moda de Adama Kai tem voz, fala, tem uma comunicação com seu usuário e é linda porque é verdadeira.


( Fontes desta postagem: Agencias ANSA, REUTERS e The Boston Globe)





3 comentários:

Sonia Lage disse...

MUITO BOM! Ñ SÓ VEJO MAIS DA MODA AFRICANA MAS COMO SE APRENDE MAIS SOBRE AS MUDANÇAS E EVOLUÇÃO DESTE PAÍS AFRICANO E DE PESSOAS COMO A KAI. DESEJO TODA SORTE DE BENÇÃOS PRA KAI E VC, KISS!!!

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