Ter um "blog" não é tarefa nada fácil para mim. Mas desta vez é definitivo e vou contar com a ajuda de alguns amigos e ex alunos.
Em primeiro lugar não possuo a paciente disciplina "virtual" de todos os dias sentar e escrever ( típico de um aquariano inquieto como eu ) , segundo já possuo um diário particular em papel (Será alguém que lembra o que é isso?) onde escrevo todos os fatos , idéias, pensamentos do meu cotidiano desde os meus 18 anos . Esses foram os motivos da primeira "brecada" no Brasil Bazaar.
A pedido de alunos de cursos que eu ministrava no Senai Cetiqt no Rio ( aviso: já sou "ex tio" ) , voltei e fiz uns 4 ou 5 "posts", porém devido a minha língua ferina acerca de determinados pontos ( principalmente moda) ganhei algumas inimizades.
Quase apanhei de um aspirante a DJ e baba ovo de um designer copista no meio de uma balada ao saber que eu era o David que assinava esse Blog.
Uma amiga parou de falar comigo por eu ter falado da Marca onde ela trabalhava ( não sabia nem que ela estava como escrava na dita cuja) .
Enfim depois destes e de outros episódios e pela minha falta de tempo e disciplina "assassinei" o Brazil Bazaar ha alguns meses atras, retirando todos os "posts" .
Algumas pessoas sentiram falta e começaram a pedir a volta do blog ( a maioria alunos e ex alunos) . Resolvi fazer um outro com impressões pessoais e falando do cotidiano, somente alguns visitaram pateticamente. Tudo bem que minha vida pessoal parece uma produção da Televisa ( não que eu queira ) mas o Ibope não foi nem o de SBT com "Maria la del Barrio" e esse blog ficara no limbo.
Entretanto de umas semanas para cá algo começou a borbulhar na minha cabeça aquariana devido as férias que me dei ( dei uma pausa em tudo para curtir a família e amigos até minha mudança para a Espanha) .
Porém as reais " molas propulsoras" para a retomada do blog foram:
. Ler uma matéria do talentoso Jum Nakao, com o qual compactuo com sua filosofia do que é moda e admirador ferrenho do trabalho, relatando o triste panorama da moda nacional( http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,MUL601093-7084,00.html). Quem estava no seu último desfile em 2004 na SPFW sabe o porquê de eu considerar Nakao uma espécie de Balenciaga nacional. Adoraria um dia conhece-lo pessoalmente.
(Abaixo desfile no AR DE PARIS da mesma coleção e não o da SPFW)
.E um papo virtual que tive com meu talentoso amigo Rubens Annes, com quem trabalhei na Patricia Viera. Rubens é daqueles designers que imprime sua marca e estilo próprio por onde passa.Você reconhece uma peça dele sem ter a sua assinatura. Aprendi muito com esse cara impar. É daquelas figuras que a luz linda que ele irradia te vicia. Não conheço uma pessoa que trabalhou com ele e não virou seu fã de carteirinha.
Rubens calmo como sempre, sabendo da minha partida só teceu mais ou menos o seguinte comentário:
_ Será que o destino de todos nós (designers cariocas de uma mesma geração já balzaquianos e frequentadores da mesma escola) é sair do país e tentar a sorte lá fora? Porque aqui está pessimo. Cara eu vou ficar sem amigos no Rio e talvez no Brasil. Perdi já as contas de quem esta se mandando daqui. Mas eu fico, tento ate o fim. Ta no sangue.
De fato ambos possuem razão. Aqui esta uma complicado mesmo: Virou moda fazer moda e bancos de faculdades estão super lotados, viraram somente uma questão de números nos cofres das instituições, e com gente saindo "a rodo" despreparada para um mercado já saturado. Não existe incentivo tecnologico e de pesquisas no setor. O Glamour efêmero dos desfiles relatado por uma mídia alienada é o que vem sustentando essa imagem de que a moda brasileira esta crescendo . A indústria textil está definhando com a concorrência internacional dos tecidos importados e das confecções de "Colômbias" da vida. Vemos cópias, cópias e mais cópias. Mas existe uma coisa que Jum, meu amigo Rubens e eu acreditamos. O Brasil tem estilo! Possuimos uma identidade única, impar.
Vamos parar de murmurar e gritar assim como fez Nakao em sua entrevista. Dar a cara para bater e falar: - Epah! Está ruim! Vamos melhorar?
Vale lembrar que já foi pior. Existiu a década de 80 onde se questionava a existencia ou não de uma Moda Brasileira.
Acho que o que falta a minha geração a galera da moda na faixa dos 30 a 40 anos (designers, jormalistas de moda, produtores, modelistas ...) é encarar o fato de que fomos os primeiros a formar uma moda realmente nacional e agora lutar pelo que plantamos. É ensinar a quem esta vindo atrás da gente como regar, como adubar... Sei que esse discurso está meio eufemístico e boboca mas é a realidade.
Eu particularmente não estou abandonando o barco, só escolhi viver em um lugar onde a qualidade de vida é melhor ( e isso não tem nada a ver com moda é uma questão muito maior) .
Estou saindo do país mas com a covicção de que deixei algo aqui em minha área profissional:
. Abri portas junto com Ivone Lane e Fatyma para uma galera do Rio no inicio dos anos 90 como produtor de eventos de moda fazendo o Mercado Carioca de Moda e suas" labels"enquanto Beto Lago e Jair Mercancini faziam o Mundo Mix em São Paulo, muito novinhos eu e as meninas erramos muito, mas valeu a pena, abrimos caminho para uma outra geração de produtores cariocas que acertando as arestas erradas da gente se deram muito como Robert Guimarães e o Fernando Molinari da Babilonia Feira Hype .
. Depois casadinho por uma década, me isolei do glamour das badalações noturnas e do pseudo mundinho fashion, ficando nas "cochias", atuando como assistente ou designer de marcas bacanas onde quando tentavam me fazer de "maquininha de copiar a Vogue UK" eu gritava e falava: Não faço, não sou xerox ... perai que vou te mostrar o que é a sua cara , se não gostar me manda embora ." E mostrava fazendo meu trabalho.
. Em seguida fui lecionar moda e aprender muito mais com meus alunos do que lecionar.
E agora voltar para Espanha e tentar mostrar que o Sudaco ( assim que eles chamam os sul americanos filhos de espanhois que retornam) tem seu valor suburbano carioca em verde e amarelo e se não der certo volto ... eu hein
Mas afinal o que é ter estilo?
O que é essa salvação para a Moda Nacional?
Em todos esses anos na função de professor de Produção de Moda foi a pergunta mais repetida, indagada, debatida entre eu e os meus alunos.
Creio que a resposta concreta e definitiva, ninguém nunca saberá.
Os mais renomados sociólogos que estudam o assunto não possuem uma resposta conclusiva e em comum, cada um tem a sua resposta e teoria. Passando por Nizia Vilaça (minha querida ex professora da UFRJ) ou os da Sorbonne como Maffesoli, Lipovetsky ...
Cheguei a uma conclusão: "Ter estilo dependerá do tempo e do espaço que você está inserido. Dependera de como você encara a sua existência."
É claro, como expliquei sempre a meus alunos, que estilo é um sitema classificatório, compostos por sinais, signos, atitudes, comportamentos... capazes de diagnosticar e classificar pessoas ou um grupo, idéias, pensamentos..... É obvio que existe os paradigmas e engrenagens da moda e do comportamento humano.
Nos Sistemas de Moda, por muitas vezes, ficamos preso ao comportamento e a atitude de vestir-se. Esquecemos que o mais importante é a atitude perante a vida , e que esta atitude é que irá te classificar em um estilo. Observo cada vez mais que na simplicidade, na solidariedade e na certeza que estou aqui só de passagem e com essa visão encontrarei meu real estilo.
Para mim estilo é um reflexo diário de quem sou como ser humano e não de quem pretendo ou acho ser.
Estilo é reflexo de minha atitudes e de minha maneira de encarar a vida.
Abaixo um poema que adoro que resume o que quero dizer:
um estilo de nascer
um estilo de amar
um estilo de transar
um estilo de corpo
um estilo de vestir
um estilo de morar
um estilo de ser com muito estilo
a vida plasmada em identidades
a vida loteada de estilos
e o que é ter estilo?
o contrario de se ter uma identidade
que trafega ávida por
ruas de mão única
estilo é expandir-se em surpresas
molecagem que escreve e rasura
versões de nós mesmos
artefato que corrompe as formas prontas
drible que desenha corpos com ginga
estilo não é colecionar historinhas enfadonhas
que não interessam a ninguém
é corar-se de intensa humanidade
é corar-se de intensa humanidade
que dá um chega pra lá
nesse incômodo indivíduo
que grudou em nós
é liberar-se dos retratos
é liberar-se dos retratos
a pose que grampeou a alma
há provavelmente demasiado estilo
naquilo que escapa o classificável
ter estilo é saber-se
pessoa que acaba
( Rosane Preciosa)
Sendo assim a salvação para a Moda Nacional é entender que somos um estilo ainda em formação pois é da natureza cultural brasileira estar sempre se reinventando.
É parar de viajar no Glamour da "Giseles".
É voltar a gostar de ser Brasileiro e latino americano.
É para de copiar as D&G da vida.
É entender que moda é arte, moda é bussines e moda é uma forma de expressão e de comunicação.
Até a próxima postagem, na semana que vem pois parto para um fim de semana fora da Badalação "Carioquez", vou para Ilha Grande incorporar o "estilo" natureba. Caixas de Marboro no mochilão ( OK! Fez um eca com o vício "de mode". Concordo e assumo essa fraqueza! è uó mesmo rsrsrs) e usar Off em vez de Victoria Secret.
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